Máskara
Núcleo Transdisciplinar de Pesquisas em Teatro, Dança e Performance
HISTÓRICO
DO GRUPO
O Máskara - Núcleo Transdisciplinar de Pesquisas em Teatro, Dança e Performance – completou 18 anos de atividades em 2020.
A primeira montagem do Máskara foi Esperando Godot, de Samuel Beckett, apresentada durante os anos 2005 e 2006 em várias cidades brasileiras, com grande sucesso e muita polêmica. Encenamos também uma adaptação para o teatro de um conto do goiano Bernardo Elis: Explosão Demográfica – Minueto em Fó Menor. Já em 2009 estreamos Senhora dos Afogados, de Nelson Rodrigues, com grande elenco. Nos anos 2009, 2010 e 2014 o grupo retorna à Beckett, agora com os espetáculos Companhia, Quê Onde (ambos encenados à convite do importante Festival Beckett de Buenos Aires – Argentina) e Curta Beckett, resultantes da inquietação deixada pela nossa montagem de Godot e de uma admiração pelos escritos beckettianos. Em 2015, os três espetáculos foram apresentados no 13o. FITI – Festival Independiente de Teatro Íntimo, nas cidades de Mérida e Cidade do México e no Encuentro Académico Brasil-México, na cidade de Querétaro (México), assim como resultou em convites para discussão, workshop e apresentação das encenações do grupo na Universidade de Gdansk - Polônia, para a apreciação da nossa vertente tropical de Beckett, que surpreendeu os poloneses.
No ano de 2016 estreamos ainda CascandoBeckett: uma imagem como outra qualquer, uma adaptação para o teatro de um conto de Samuel Beckett, e em 2018 A Noite dos Assassinos do dramaturgo cubano José Triana.
O Grupo Máskara também tem desenvolvido, desde a sua criação, uma série de experimentos de performance: Recital em Homenagem a Garcia Lorca (2002), O Contrabaixo de Patrick Suskind (Festival Internacional de Contrabaixo 2008), Company: O Olho de Beckett/teatro-prosa-poema (Festival Internacional Beckett de Buenos Aires 2009; Festival Nacional de Teatro de São José dos Campos 2010), Oficina Fim de Jogo - Polônia, na cidade de Sopot; O Despertar da Primavera (2010); O Repouso do Inocente (MAC/USP 2010); Lua Vermelha (MAC USP 2010).
Nossas peças procuram um diálogo pleno com as margens textuais dos sertões de Guimarães Rosa, com o discurso interrompido de Bernardo Élis e o rio profundo de Cora Coralina, se afogam no pantanal de Manoel de Barros e na negatividade do argentino Jorge Luís Borges. No imaginário brasileiro andamos para frente sobre os pés de um curupira.
Maskara - Transdisciplinary Center of Research in Theater, Dance and Performance - completed 15 years of activities in 2017.
The first performance of Maskara was Waiting for Godot, by Samuel Beckett, presented at several Brazilian cities, with great success and much controversy, a part of the Brazilian activities of the centenary of Samuel Beckett's birth.
We also staged an adaptation for the theater of a tale by Bernardo Elis, a poet from Goiás: Demographic Explosion - Minueto in Fó Menor. In 2009, we premiered Senhora dos Afogados, by Nelson Rodrigues, with a great cast. In the years of 2009, 2010 and 2014 the group returns to Beckett, now with the shows Company, What Where, both staged at the invitation of the important Beckett Festival in Buenos Aires – Argentina, and Short/Enjoy Beckett, resulting from the restlessness left by our performance of Godot, and by a extreme admiration for the beckettian writings. In 2015, Company, What Where, and Short/Enjoy Beckett were presented at the 13th. FITI - Independent Festival of Intimate Theater, in the cities of Mérida and Mexico City and at the Encuentro Academica Brasil-México, in the city of Querétaro, as well as resulted in invitations to discuss the scenarios of the group at the University of Gdansk - Poland, for the appreciation of our tropical road to Beckett, which surprised the presents.
In the year 2016 we still debuted Cascando Beckett: an image like any other, an adaptation for the theater of the homonymous tale of Beckett.
Since its creation, the Maskara Theater Group has also developed a series of performance experiments: Recital in Homage to Garcia Lorca (2002), The Double Bass by Patrick Suskind (International Double Bass Festival 2008), Company: The Beckett Eye / prose-poem theater (Beckett International Festival of Buenos Aires 2009, National Theater Festival of São José dos Campos 2010), End of Game Workshop - Poland, in the city of Sopot; The Spring Awakening (2010); The Rest of the Innocent (MAC / USP 2010); Red Moon (MAC USP 2010).
Our performances seek a full dialogue with the textual margins of the backlands (sertões) as written by Guimarães Rosa, with the interrupted speech of Bernardo Élis and the deep river of Cora Coralina, drowned in the pantanal of Manoel de Barros, and in the negativity of the Argentine writer Jorge Luis Borges. Throughout Brazilian imagination we walked forward over the feets of a curupira demon.
Programação
-
Oficina: Voz em Cena: Afetos e Emoções - 06 a 15 de junho/2022
Facilitadora: Profª. Drª Adriana Fernandes (UFPB)
Horário: 19:30-22:00hs
Local: Escola do Futuro em Artes Basileu França
Número máximo de participantes: 20 pessoas (Máskara – 5 vagas, EMAC – 5 vagas, PPGPC – 5 vagas e Basileu França – 5 vagas)
Inscrição: https://forms.gle/z4ViRAP4ZXywwm4o6
Descrição: Uma oficina para propiciar o re-encontro da voz com o corpo. A respiração é a convidada, de honra. Através dela é possível o encontro e as descobertas de inúmeras possibilidades “corpOrais” (Montenegro, 2019). Elementos musicais são usados como ferramentas-condutoras para uma vocalização senciente, sensível e expressiva do mundo interior das subjetividades. Lá, onde moram os afetos, onde as emoções são processadas. Quais componentes desta viagem – de si para si mesmo – podem ser aproveitadas na atuação em cena? Como reconectar o fluxo de energia entre o corpo e a voz para o trabalho em cena? Esta primeira oficina é um experimento prático de estágio pós-doutoral de Adriana Fernandes, projeto intitulado: A Voz-Corpo da Atriz/Ator de Teatro no Contexto da Performance e das Afetividades.
Planejamento:
06 a 10/06 – vivências, exercícios, descobertas e rodas de conversas;
11 e 12/06 – trabalho individual, em casa, sobre pequeno/breve texto
(teatral e ou poético);
13 a 15/06 – mostras dos trabalhos, discussões, dúvidas, questões emergentes.
Material necessário para o trabalho prático: uma toalhinha de rosto; levar a sua garrafa de água potável; roupas leves e flexíveis.
2. Palestra/Seminário:
Geografia Da Imaginação!
Geografia Wyobraźni!
Geography Of Imagination!
08 a 10 de junho/2022
Facilitador: Prof. Dr. Tomasz Wiśniewski (Universidade de Gdánsk – Polônia)
Horário: 8:00-12:00hs
Local: Escola do Futuro em Artes Basileu França
Número máximo de participantes: 40 pessoas (Máskara – 7 vagas, EMAC – 11 vagas, PPGPC – 11 vagas e Basileu França – 11 vagas)
Inscrição: https://forms.gle/CRLkNKh3PE8fT7VQA
Descrição:
Geografia da Imaginação é entendida em um nível metafórico bastante amplo e abrange vários graus de generalização, tais como: os significados da cultura/teatro/literatura local; os conceitos de teatro/cultura/literatura nacional (nacional); perspectivas europeias e globais. O material para o programa de ensino deve cobrir elementos da obra de Samuel Beckett; do Teatro físico polaco (Gardzienice, ZAR, Wierszalin e Song of the Goat Theatre - Teatro da Canção do Bode); Teatro europeu no contexto global (Complicité, formação teatral de Jacque Lecoq, teatro irlandês, Teatro Maskara, ExMachina); poesia moderna e contemporânea em língua polonesa, inglesa e portuguesa/brasileira.
3. Workshop:
Geografia Da Imaginação!
Geografia Wyobraźni!
Geography Of Imagination!
08 a 10 de junho/2022
Facilitador: Prof. Dr. Martin Blaszk (Universidade de Gdánsk – Polônia)
Horário:14:00 – 18 hs
Local: Escola do Futuro em Artes Basileu França: 20 pessoas (participantes) (Máskara – 6 vagas, EMAC – 5 vagas, PPGPC – 5 vagas e Basileu França – 4 vagas) + 20 pessoas (ouvintes) (EMAC – 6 vagas, PPGPC – 7 vagas e Basileu França – 7 vagas)
Inscrição: https://forms.gle/thJYyoHi4Ru61jwq5
Descrição: Uso de características do happening como base para uma prática docente performativa; desenvolvimento de modelos de aprendizagem em espaço aberto; O formato do programa de ensino está aberto a inovações metodológicas e improvisação planejada, mas está fundamentado na preparação e documentação formal e sistemática.
4. Encontro: Entre Between Pomiędzy Polônia - Brasil
11 de junho/2022
Facilitadores: Prof. Dr. Martin Blaszk (Universidade de Gdánsk – Polônia)
Prof. Dr. Tomasz Wiśniewski (Universidade de Gdánsk – Polônia)
Profª. Drª Adriana Fernandes (UFPB) Brasil
Prof. Dr. Robson Corrêa de Camargo FCS/UFG Brasil
Horário: 08:00-12:00hs
Local: Escola do Futuro em Artes Basileu França
Inscrição: https://forms.gle/irTNCVLUs8QA28QdA
Programação:
08:00 – 08:20h – Intervenção cênica: Textos Para Nada – Máskara – Núcleo Transdisciplinar de Pesquisas em Teatro, Dança e Performance.
08:20 – 08:40h – Apresentação do evento.
08:40 – 09:40h – Mesa-redonda: Between.Pomiędzy.Entre – As atividades conjuntas entre UFG – Brasil e University of Gdánsk – Polônia. Salto Para o Futuro.
09:40 – 10:00h – Intervalo
10:00 – 11:00h – Happenning: resultado das oficinas e seminários. Projeção de filmes poloneses.
11:00 – 12:00h - Sarau na Roda! Roda de Criações: E o negão entrou na roda pra não mais sair! Saia! (Apresentação de leituras e performances curtas, autorais ou não, improvisações, em língua portuguesa, polonesa, inglesa, línguas nativas brasileiras).
5. Espetáculo: Quê Onde - 11 de junho/2022
Gratuito
Horário: 20:00 h
Facilitador(a): Máskara – Núcleo Transdisciplinar de Pesquisas em Teatro, Dança e Performance
Local: Escola do Futuro em Artes Basileu França
Descrição: Quê Onde ou Que Donde ou What Where, Quoi où, é um texto onde uma voz afirma ao final: “Faça Sentido Quem Possa”. Último texto de Beckett escrito para o palco (1983), com quatro ou cinco personagens (Bam, Bom, Bim, Bem e a Voz) que entram e saem de cena num desenho circular. Este texto abre leituras múltiplas, pode ser um vaudeville, uma comédia ou um drama brechtiano. Sua dramaturgia é composta de perguntas e poucas respostas, solicita um espectador criativo, não aquele cego às entrelinhas ou ao ritmo da cena. Beckett não se repete porque a vida não se repete. Talvez haja uma história, ou não.
6. Workshop: ENTRE: uma investigação sobre Samuel Beckett - 13 de junho/2022
19:30 – 21 hs
Facilitadores: Prof. Dr. Tomasz Wiśniewski e Prof. Dr. Martin Blaszk (Universidade de Gdánsk – Polônia)
Local: SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco (Sede Roosevelt – Praça Franklin Roosevelt, 210, Consolação, São Paulo – SP)
Descrição: ENTRE: uma investigação sobre Samuel Beckett – formas de explorar fisicamente as reações pessoais a este mestre parisiense/irlandês da literatura e do teatro do século XX
Profª. Drª. Adriana Fernandes (Universidade Federal da Paraíba – Brasil)
Possui Licenciatura em Educação Artística Habilitação Música - Piano pela Universidade Federal de Uberlândia (1989), mestrado em Artes pela Universidade Estadual de Campinas (1995) e doutorado em Music (Ethnomusicology) - PhD - University of Illinois at Urbana-Champaign (EUA) (2005). Atualmente é professora associada da Universidade Federal da Paraíba. Exerceu o cargo de Chefia do Departamento de Artes Cênicas da UFPB (junho de 2017 a maio de 2019). Trabalhou na Universidade Federal de Goiás de 1995 a 2008 na Escola de Música e Artes Cênicas. Atua no Programa de Pós Graduação em Música da UFPB como professora permanente e no Programa de Pós Graduação em Performances Culturais da UFG como colaboradora. Tem experiência na área de Artes, com ênfase em Música e Artes Cênicas, atuando principalmente nos seguintes temas: relação música e teatro, performance, voz, interpretação teatral e música popular, música e corpo.
Prof. Dr. Tomasz Wiśniewski (Universidade de Gdánsk – Polônia)
Dr. Tomasz Wiśniewski, Prof da Universidade de Gdansk é chefe do Departamento de Artes Cênicas. Foi vice-diretor de pesquisa do Instituto de Estudos Ingleses e Americanos da Universidade de Gdańsk (2016-2019). Éum dos fundadores do Beckett Research Group em Gdańsk e do Between.Pomiędzy.Entre Research Group. Publicou Complicite, Theatre and Aesthetics (Palgrave Macmillan, 2016), Kształt literacki Samuela Becketta (Universitas, 2006), e (co-)editou várias publicações acadêmicas, incluindo Back to the Beckett Text (UG Press, 2012), Between Page and Stage: Scholars and Theatre-Makers (UG Press, 2018) e Włodzimierz Staniewski and the Phenomenon of 'Gardzienice' (Routledge 2022).
Faz parte do conselho editorial da revista trimestral literária Tekstualia (Varsóvia), editor-gerente regional do The Theatre Times, membro do conselho da Associação Polonesa para o Estudo do Inglês (desde 2018), membro do Conselho do Programa Gdańsk Shakespeare Theatre (desde 2018) e membro do Conselho Editorial da coleção Anthem Studies em Teatro e Performance. Atualmente, sua pesquisa concentra-se no drama e teatro irlandês e no teatro físico polonês.
Prof. Dr. Martin Blaszk (Universidade de Gdásnk – Polônia)
Martin Blaszk, PhD, professor assistente do Instituto de Estudos Ingleses e Americanos, Universidade de Gdańsk (UG), Em 2021 publicou a monografia Happening In Education - An Empirical Study (Peter Lang), e em 2017 o livro Happening In Education - Theoretical Issues (Peter Lang). Autor de artigos sobre a aplicação do happening e da performance no ensino e na educação da língua inglesa, bem como nas práticas pedagógicas.
Ele ensina inglês em vários níveis de proficiência, bem como disciplinas eletivas relacionadas à criatividade, acontecimento e educação e consciência crítica. Ele é o supervisor de práticas de ensino do aluno no Instituto de Estudos Ingleses e Americanos, Especialização de Professores (nível BA). Nos anos 2000-2010 foi Vice-Diretor do British Centrum Studium UG, onde ministrou Workshops Criativos, Estudos Culturais (Grã-Bretanha) e Literatura Infantil (todos para o Early Education with English Course, Pedagogy Institute, UG). Coordenou e liderou o Curso de Metodologia do Ensino da Língua Inglesa e a prática docente na escola de formação de professores NKJO "Regent College" nos anos de 2003-2011. É membro do conselho editorial do periódico "Beyond Philology". Ele também é membro das associações científicas Gdańsk Beckett Seminar e International Border Studies Center. Em sua pesquisa, ele está interessado em happening e criatividade na educação e no ensino da língua inglesa. Como artista, é autor de exposições, installations and performances na Gran Bretanhae Polônia. Co-fundador e membro dos coletivos artíticos "Whiskey Tower Studio" (1984-1988), "StudioSzkic" (2008-2013) and "kowboj.pl" (2005-2010).
Agenda
Quê Onde
11/06 – Auditório da Escola de Futuro em Artes Basileu França– 20 h - Gratuito
Curta Beckett
10/07 – XVI Festival de Teatro da FETEG - Federação de Teatro de Goiás – 20 h
A Noite dos Assassinos
“Quando os deuses permanecem em silêncio,
as pessoas gritam”
José Triana.
Texto: José Triana
Direção: Robson Corrêa
Elenco:
Gabriella Vitorino
Ilmara Damasceno
Ronei Vieira
O TEXTO:
Escrito em 1965 pelo dramaturgo cubano exilado em Paris Jose Triana, Noche de Los Assessinos recebeu o prestigioso Casa das Américas de 1966 e depois outros prêmios na Colômbia, Argentina e México.
Reconhecido em todo mundo como um dos mais importantes textos latino-americanos, inúmeras montagens já foram feitas no Brasil. Em 1969, no Rio de Janeiro, estreava este texto os reconhecidos atores Leyla Ribeiro, Norma Benguel e Rubens Corrêa, com direção de Eros Martins e cenografia de Hélio Eichbauer, umas das grandes criações que inauguravam o Teatro Ipanema. Montagem premiadíssima, recebeu o Prêmio Molière e muitos outros.Em São Paulo, em 1979, dez anos depois outra montagem premiada, direção de Roberto Vignati, cenografia e figurinos de Ednaldo Freire, no elenco artistas de primeira, Calixto de Inhamuns, Maria do Carmo Soares e Rosi Campos, um dos sucessos marcantes do inesquecível Grupo de Teatro Mambembe.
Este texto se constitui no cruzamento entre o teatro improvisacional e o teatro clássico. Um teatro que mostra que tudo muda, tudo se move, tudo se transforma, um canto necessário no país em que hoje vivemos. Nos anos 60 e 70 uma solidariedade nos unia, o sonho de uma latinoamérica que deveria ser una e livre, tempos de ditadura no Brasil, e ditadura no Chile, a partir do golpe militar de 1973. O texto afirma reiteradamente “a cadeira não é a cadeira, o quarto não é o quarto, o quarto é o banheiro”. Era este o país em que vivíamos. Neste texto três irmãos descem ao porão de casa, cotidianamente, para vivenciar o assassinato dos pais. Verdade ou representação?
Este texto cubano foi muitas vezes lido como uma homenagem e/ou uma crítica ao socialismo cubano. Uma série de fatos transformará o autor e sua obra num apátrida dentro de sua Cuba, o que o levará a buscar o exílio em 1980, mudando-se para Paris.
A história remonta a 1950, em Cuba, antes da Revolução de 1959, quando três irmãos, Cuca, Beba e Lalo, já adultos, se encontram no porão de sua casa para encenar o assassinato de seus próprios pais. Esta encenação representada é uma fantasia, um ensaio, ou uma re-presentação do que já foi feito? Neste sério jogo de faz-de-conta, mortal e simbólico, não há amor entre os pais e as crianças, revive-se apenas o recalcado. Arte ou realidade? Embora haja apenas três atores em cena, eles atuam um enorme repertório de personagens ausentes/presentes, incluindo seus pais.
Uma primeira pergunta aparece para a plateia desde o primeiro momento, é uma representação ou um planejamento do que está para acontecer? Os cáusticos irmãos criticam a todos, inclusive a si mesmo.
O AUTOR
José Triana afirma Sempre fui e serei um exilado.
A dramaturgia de Triana é uma dramaturgia da memória, onde ele afirma que a memória é um fenômeno sem rasuras ou costuras, onde o “único que podemos ter consciência é de sua fragmentação. Trabalhar com a memória é trabalhar em um terreno pantanoso”.
As obras de Jose Triana, nascido em 1931, em Camaguey, foram traduzidas ao inglês, francês, italiano, português, alemão, húngaro, polaco, sueco, holandês, hebreu e catalão. Seu reconhecimento se deve inicialmente a excursão que a montagem original fez na Europa, no Festival de Avignon, depois em Londres e na Itália e certamente estava imerso no fascínio que a Revolução Cubana carregava a todo o mundo.
Dramaturgo, romancista, contista, poeta, José Triana é uma figura extraordinária da cena cubana e referência indiscutível da história do teatro latino-americano. Em uma entrevista marcante de 12 de maio de 1997, a Christilla Vasserot, Triana apresenta os personagens de seu teatro como seres humanos que “por uma ou outra razão sempre estão na margem, nos limites, nunca satisfeitos com o que fizeram ou fazem. Estão em uma margem estranha dentro da sociedade”, definição que também poderia ser aplicada ao próprio Triana, que escolheu o exílio na França em 1980.
José Triana entrecruza o sensualismo e o desejo mítico do cubano. Triana destaca que pertence ao povo cubano a atitude de cada um inventar uma história, às vezes muito delirante, para construir caminhos interpretativos, assim a mitomania dos cubanos apresenta e representa a loucura do mito. Um trata de mitificar o outro e a si mesmo.
José Triana destaca que as pessoas inicialmente interpretaram A Noite dos Assassinos como uma obra nociva, um ataque a ideia revolucionária, mas o que ele abordava era o ato revolucionário de transformação que deve se dirigir fundamentalmente ao indivíduo, pois “há que se fazer uma reflexão interna, profunda, para se lograr o verdadeiro ato revolucionário”. Cáustico, afirma em seu exílio “O castrismo se fundamenta na concepção pequeno burguesa da vida, e eu estava dando-lhe, com esta obra, um golpe profundo, dinamitando esta estrutura”. Meu teatro é uma metáfora, uma aproximação.
O que está em cena na Noite de Triana é o tocar em zonas que nunca haviam antes sido tratadas, como o desterro, a igualdade de condições. E, em Cuba, isto não podia ser dito, o exilado era um ser negado, não existia, havia que se declarar que tudo era divino e maravilhoso. Em 1968 foi constantemente agredido em Cuba, conta, se “fizeram manifestos contra mim, nas assembleias, nas ruas, nos centros de trabalho” por sua ligação com um teatro que criticava os “avanços da Revolução Cubana”. Tempos em que o falar criticamente era apontado como ser contrário a Revolução Cubana. Críticas não eram admitidas. Um tempo em que muitos intelectuais eram presos e tinham que desdizer o que não disseram, e dizer o que não diziam, um disse que não disse, um não dizer do que se disse, desdizendo. Um tempo onde as cadeiras tinham que ser as mesas, a sala a cozinha. Isto levará Jose Triana a fugir de Cuba e a viver permanentemente em Paris.
Entrevista de Triana
O DIRETOR
Robson Corrêa de Camargo
Para mim um texto especial, foi meu espetáculo de formatura do curso de direção na Escola de Comunicações e Artes da USP, em 1975. Mesmo ano da morte encenada e real de Vladimir Herzog, professor da ECA/USP, nos porões da ditadura. Voltar a um velho clássico é um prazer e um sofrimento, quando muitos se acovardam e evitam levantar as velas do antigo e majestoso teatro. Uma reflexão necessária quando completo 50 anos de constantes práticas teatrais, um prazer dado a poucos.
OS ATORES
Gabriella Vitorino
Contracenando ao lado de duas pessoas incríveis que já foram meus professores, quando me veio o convite, confesso que o medo tomou conta de mim. Era exatamente o tipo de texto e personagem que desejei por tantos anos. Mas ignorando todos os sintomas de desespero, entrei com sede de conhecimento e muita ansiedade em ser aprendiz. O processo me colocou face a face com minhas maiores dificuldades, me pôs a prova, fez duvidar de antigas convicções e travar combates contra mim mesma. Proporcionou uma liberdade de criação que nunca experimentei antes, o que para alguém que estava acostumada a ter passos cronometrados, sair da zona de conforto foi assustador e maravilhoso ao mesmo tempo. Assim desabrochei e das dificuldades encontradas, algumas consegui superar, outras, volta e meia as encontro na esquina. A todo o aprendizado que tive, sou imensamente grata. Aqui questionei e repensei, para no fim, mais uma vez reafirmar meu lugar na arte, um não lugar.
ASSASSINA 1
ASSASSINA 2
Ilmara Damasceno
A noite... traz muitas emoções e reflexões. A dramaturgia de alguma forma acerta as feridas comuns a nós, tem uma densidade presente como no próprio viver e nas lutas que travamos para sobreviver em meio aos conflitos existenciais, desejos sucumbidos e sonhos etéreos. Enxergar a humanidade presente nos personagens, ser sensível ao drama, perspicaz ao gesto, é o meu desafio constante com a obra.
Ronei Vieira
Em 2013 tive o primeiro contato com o texto “A Noite dos Assassinos” para uma possível montagem. Desde a primeira leitura o texto me assustava e me fascinava, instigando um desejo maluco de querer me enfiar no porão dessa casa e viver esse Lalo, que também sou eu. A montagem foi um processo intenso de mergulho íntimo e olhar aguçado para a sociedade que vivemos, como também na nossa história pessoal e coletiva. Memórias que são acessadas, reflexões que são instigadas, sentimentos que são acionados... e desse processo íntimo expomos humanidades...
A Noite dos Assassinos
“Quando os deuses permanecem em silêncio,
as pessoas gritam”
José Triana.
O TEXTO:
Escrito em 1965 pelo dramaturgo cubano exilado em Paris Jose Triana, Noche de Los Assessinos recebeu o prestigioso Casa das Américas de 1966 e depois outros prêmios na Colômbia, Argentina e México.
Reconhecido em todo mundo como um dos mais importantes textos latino-americanos, inúmeras montagens já foram feitas no Brasil. Em 1969, no Rio de Janeiro, estreava este texto os reconhecidos atores Leyla Ribeiro, Norma Benguel e Rubens Corrêa, com direção de Eros Martins e cenografia de Hélio Eichbauer, umas das grandes criações que inauguravam o Teatro Ipanema. Montagem premiadíssima, recebeu o Prêmio Molière e muitos outros.Em São Paulo, em 1979, dez anos depois outra montagem premiada, direção de Roberto Vignati, cenografia e figurinos de Ednaldo Freire, no elenco artistas de primeira, Calixto de Inhamuns, Maria do Carmo Soares e Rosi Campos, um dos sucessos marcantes do inesquecível Grupo de Teatro Mambembe.
Este texto se constitui no cruzamento entre o teatro improvisacional e o teatro clássico. Um teatro que mostra que tudo muda, tudo se move, tudo se transforma, um canto necessário no país em que hoje vivemos. Nos anos 60 e 70 uma solidariedade nos unia, o sonho de uma latinoamérica que deveria ser una e livre, tempos de ditadura no Brasil, e ditadura no Chile, a partir do golpe militar de 1973. O texto afirma reiteradamente “a cadeira não é a cadeira, o quarto não é o quarto, o quarto é o banheiro”.
Era este o país em que vivíamos. Neste texto três irmãos descem ao porão de casa, cotidianamente, para vivenciar o assassinato dos pais. Verdade ou representação?
Este texto cubano foi muitas vezes lido como uma homenagem e/ou uma crítica ao socialismo cubano. Uma série de fatos transformará o autor e sua obra num apátrida dentro de sua Cuba, o que o levará a buscar o exílio em 1980, mudando-se para Paris.
A história remonta a 1950, em Cuba, antes da Revolução de 1959, quando três irmãos, Cuca, Beba e Lalo, já adultos, se encontram no porão de sua casa para encenar o assassinato de seus próprios pais. Esta encenação representada é uma fantasia, um ensaio, ou uma re-presentação do que já foi feito? Neste sério jogo de faz-de-conta, mortal e simbólico, não há amor entre os pais e as crianças, revive-se apenas o recalcado. Arte ou realidade? Embora haja apenas três atores em cena, eles atuam um enorme repertório de personagens ausentes/presentes, incluindo seus pais.
Uma primeira pergunta aparece para a plateia desde o primeiro momento, é uma representação ou um planejamento do que está para acontecer? Os cáusticos irmãos criticam a todos, inclusive a si mesmo.
O AUTOR
José Triana afirma Sempre fui e serei um exilado.
A dramaturgia de Triana é uma dramaturgia da memória, onde ele afirma que a memória é um fenômeno sem rasuras ou costuras, onde o “único que podemos ter consciência é de sua fragmentação. Trabalhar com a memória é trabalhar em um terreno pantanoso”.
As obras de Jose Triana, nascido em 1931, em Camaguey, foram traduzidas ao inglês, francês, italiano, português, alemão, húngaro, polaco, sueco, holandês, hebreu e catalão. Seu reconhecimento se deve inicialmente a excursão que a montagem original fez na Europa, no Festival de Avignon, depois em Londres e na Itália e certamente estava imerso no fascínio que a Revolução Cubana carregava a todo o mundo.
Dramaturgo, romancista, contista, poeta, José Triana é uma figura extraordinária da cena cubana e referência indiscutível da história do teatro latino-americano. Em uma entrevista marcante de 12 de maio de 1997, a Christilla Vasserot, Triana apresenta os personagens de seu teatro como seres humanos que “por uma ou outra razão sempre estão na margem, nos limites, nunca satisfeitos com o que fizeram ou fazem. Estão em uma margem estranha dentro da sociedade”, definição que também poderia ser aplicada ao próprio Triana, que escolheu o exílio na França em 1980.
José Triana entrecruza o sensualismo e o desejo mítico do cubano. Triana destaca que pertence ao povo cubano a atitude de cada um inventar uma história, às vezes muito delirante, para construir caminhos interpretativos, assim a mitomania dos cubanos apresenta e representa a loucura do mito. Um trata de mitificar o outro e a si mesmo.
José Triana destaca que as pessoas inicialmente interpretaram A Noite dos Assassinos como uma obra nociva, um ataque a ideia revolucionária, mas o que ele abordava era o ato revolucionário de transformação que deve se dirigir fundamentalmente ao indivíduo, pois “há que se fazer uma reflexão interna, profunda, para se lograr o verdadeiro ato revolucionário”. Cáustico, afirma em seu exílio “O castrismo se fundamenta na concepção pequeno burguesa da vida, e eu estava dando-lhe, com esta obra, um golpe profundo, dinamitando esta estrutura”. Meu teatro é uma metáfora, uma aproximação.
O que está em cena na Noite de Triana é o tocar em zonas que nunca haviam antes sido tratadas, como o desterro, a igualdade de condições. E, em Cuba, isto não podia ser dito, o exilado era um ser negado, não existia, havia que se declarar que tudo era divino e maravilhoso. Em 1968 foi constantemente agredido em Cuba, conta, se “fizeram manifestos contra mim, nas assembleias, nas ruas, nos centros de trabalho” por sua ligação com um teatro que criticava os “avanços da Revolução Cubana”. Tempos em que o falar criticamente era apontado como ser contrário a Revolução Cubana. Críticas não eram admitidas. Um tempo em que muitos intelectuais eram presos e tinham que desdizer o que não disseram, e dizer o que não diziam, um disse que não disse, um não dizer do que se disse, desdizendo. Um tempo onde as cadeiras tinham que ser as mesas, a sala a cozinha. Isto levará Jose Triana a fugir de Cuba e a viver permanentemente em Paris.
Entrevista de Triana
O DIRETOR
Robson Corrêa de Camargo
Para mim um texto especial, foi meu espetáculo de formatura do curso de direção na Escola de Comunicações e Artes da USP, em 1975. Mesmo ano da morte encenada e real de Vladimir Herzog, professor da ECA/USP, nos porões da ditadura. Voltar a um velho clássico é um prazer e um sofrimento, quando muitos se acovardam e evitam levantar as velas do antigo e majestoso teatro. Uma reflexão necessária quando completo 50 anos de constantes práticas teatrais, um prazer dado a poucos.
OS ATORES
Gabriella Vitorino
Contracenando ao lado de duas pessoas incríveis que já foram meus professores, quando me veio o convite, confesso que o medo tomou conta de mim. Era exatamente o tipo de texto e personagem que desejei por tantos anos. Mas ignorando todos os sintomas de desespero, entrei com sede de conhecimento e muita ansiedade em ser aprendiz. O processo me colocou face a face com minhas maiores dificuldades, me pôs a prova, fez duvidar de antigas convicções e travar combates contra mim mesma. Proporcionou uma liberdade de criação que nunca experimentei antes, o que para alguém que estava acostumada a ter passos cronometrados, sair da zona de conforto foi assustador e maravilhoso ao mesmo tempo. Assim desabrochei e das dificuldades encontradas, algumas consegui superar, outras, volta e meia as encontro na esquina. A todo o aprendizado que tive, sou imensamente grata. Aqui questionei e repensei, para no fim, mais uma vez reafirmar meu lugar na arte, um não lugar.
Ilmara Damasceno
A noite... traz muitas emoções e reflexões. A dramaturgia de alguma forma acerta as feridas comuns a nós, tem uma densidade presente como no próprio viver e nas lutas que travamos para sobreviver em meio aos conflitos existenciais, desejos sucumbidos e sonhos etéreos. Enxergar a humanidade presente nos personagens, ser sensível ao drama, perspicaz ao gesto, é o meu desafio constante com a obra.
Ronei Vieira
Em 2013 tive o primeiro contato com o texto “A Noite dos Assassinos” para uma possível montagem. Desde a primeira leitura o texto me assustava e me fascinava, instigando um desejo maluco de querer me enfiar no porão dessa casa e viver esse Lalo, que também sou eu. A montagem foi um processo intenso de mergulho íntimo e olhar aguçado para a sociedade que vivemos, como também na nossa história pessoal e coletiva. Memórias que são acessadas, reflexões que são instigadas, sentimentos que são acionados... e desse processo íntimo expomos humanidades...
Ficha Técnica
Texto: José Triana
Tradução e Adaptação: Poliane Vieira Nogueira
Direção: Robson Corrêa de Camargo
Elenco: Gabriella Vitorino - BEBA
Ilmara Damasceno - CUCA
Ronei Vieira – LALO
Preparação Corporal: Warla Paiva
Cenário e Figurino: Guilherme Oliveira
Iluminação: Allan Lourenço
Fotografia: Victor Hugo Maia
Material Gráfico: Hiro Okita
Captação de Recursos: Arte Brasil Projetos Socioculturais
Produção: Ronei Vieira
Esperando Godot
Texto de Samuel Beckett
Em um lugar indefinido - Estrada (caminho) do campo, com árvore, á noite (Route à la campagne, avec arbre. Soir) - dois amigos se encontram: Estragon e Vladimir. A primeira frase dita na peça, por Estragon, já indica a inutilidade da presença deles naquele lugar:"nada a fazer" (rien à faire). Eles lá se encontram para esperar um sujeito de nome Godot. Nada é esclarecido a respeito de quem é Godot ou o que eles desejam dele. Os dois iniciam um diálogo trivial que só será interrompido quando da entrada de Pozzo e Lucky.
O aparecimento destes assusta os amigos, ainda mais pelo modo como os dois vêm: Pozzo puxa uma corda que na outra ponta está amarrada ao pescoço de Lucky. Lucky por sua vez carrega uma pesada mala que não larga um só instante. Entende-se pela situação que Pozzo é o patrão e Lucky seu criado. Os quatros trocam palavras, cada um com seu drama pessoal, até que Pozzo e Lucky saem. Em seguida, entra um garoto para anunciar que quem eles estão esperando - Godot - não viria hoje, talvez amanhã. Fim do primeiro ato.
O segundo ato é a cópia fiel do primeiro. O cenário é o mesmo, a menos da árvore que está um pouco diferente, com algumas folhas. Estragon e Vladimir voltam para esperar Godot, que talvez apareça nesse dia. Iniciam outro diálogo trivial, interrompido outra vez pela chegada de Pozzo e Lucky. Só que, inexplicavelmente, Pozzo está cego e Lucky está surdo. Dialogam. Após a partida destes, aparece um garoto (diferente do garoto do primeiro ato) anunciando que Godot não viria hoje, talvez amanhã. Pensam em se enforcar na árvore, mas desistem, ante a impossibilidade do ato ser simultâneo. O diálogo final, que encerra o ato e a peça é o seguinte:
Vladimir: Então, devemos partir?
Estragon: Sim, vamos.
(Eles não se movem.)
FICHA TÉCNICA
Montagem de Esperando Godot 2005/2007 -
Autor: Samuel Beckett
Encenação: Robson Camargo
Elenco: Saulo Dallago
Wesley Martins
Karine Ramaldes
Valeria Braga
João Pedro Caetano
Cenários: Wagner Gonçalves
Figurinos: Renata Caetano
Trilha sonora: Renato Luciano Vasconcelos - Adriana Fernandes
Execução de Figurinos: Ana Mendonça
Iluminação: Greco
Maquiagem: Andreydsa Luana e Renata Caetano
Senhora dos Afogados
Esta montagem do grupo Máskara foi construída durante o ano de 2008 dentro da disciplina “Oficina do Espetáculo” do curso de Artes Cênicas da Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás, em Goiânia, seqüência de um primeiro trabalho, de 2007, realizado a partir de cenas estudadas dentro da obra do dramaturgo alemão Bertolt Brecht. Do elenco de quatorze pessoas que apresentou a primeira versão restam aqui apenas três pessoas. O resultado do trabalho nos impulsionou a continuar a experiência, que, para todos tornou-se muito instigante. Infelizmente por múltiplas razões apenas alguns continuam o processo.
Em 2009 apresentamos o espetáculo em Goiânia e outras cidades e em 2012 para comemorar os 10 anos do grupo Máskara voltamos as pesquisas para a remontagem de “Senhora dos Afogados”.
Senhora Dos Afogados foi proibida em janeiro de 1948. Com duas peças interditadas(a outra foi álbum de família), o autor luta para tentar liberá-las . Senhora dos Afogados é encenada apenas em 1954, no Rio de Janeiro, com direção de Bibi Ferreira. A platéia , ao final, dividiu-se e uma parte gritava “GÊNIO” e a outra “TARADO”. O autor não aguentou e reagiu à platéia gritando do palco: “BURROS! BURROS!”. Como vemos, o autor, em uma de suas frases mais conhecidas esclarece:
“Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico.”
Nelson Rodrigues (1912 – 1980), escreve Senhora Dos Afogados em 1947. De sua experiência de repórter policial, somada a influência do teatro expressionista e a obra do americano Eugene O’Neill (em especial Electra Enlutada), ele tirou inspiração para uma tragédia familiar retumbante e em três atos sobre uma irmã que afoga outras duas para obter o amor do pai – e ainda empurra a mãe para os braços de seu irmão bastardo.
Esta montagem é uma re-leitura do universo dramático de Nelson Rodrigues sob o ponto de vista do grotesco e do melodrama. Uma abordagem não tradicional de uma tradicional família brasileira. A tragédia de Nelson Rodrigues já é uma releitura do mito grego de Electra, mulher que possui uma paixão pelo pai, planejando a morte da própria mãe. O texto de Nelson também se apropria da obra ‘Electra Enlutada”, do dramaturgo norte-americano, Eugene O’Neill.
FICHA TÉCNICA
Direção: Robson Corrêa Camargo
Elenco: Deusimar Gonzaga (Misael) - 2009 a 2012
Valéria Livera (D. Eduarda) -2009
Janaína Soldera (D. Eduarda) - 2012
Kelly Priscilla (Moema) - 2009 a 2012
Lili Franco (Moema) - 2009
Janaína Deuselice (Moema) - 2009
Ronei Vieira (Noivo) - 2009 a 2012
Luciano di Freitas (Paulo) - 2012
Edlúcia Barros (Paulo) - 2009
Edlúcia Barros (Avó) - 2012
Cristiane Reis (Avó) - 2009
Mariana Tagliari (Vizinho / Coro) - 2009 a 2012
Haroldo di Piedro (Vizinho / Coro) - 2009 a 2012
Clécia Sant’Anna (Vizinho / Coro) - 2012
Ana Paula Teixeira (Vizinho/ Coro) - 2009
Mayara Costa (Dona) - 2012
Letícia Lemes (Dona) - 2009
Orientação de Figurino e Maquiagem: Rosi Martins
Orientação de Cenário: Matheus Bertoni
Iluminação: Allan Lourenço
Fotos: Olívia Proença
Produção: Ronei Vieira
Companhia
Texto de Samuel Beckett
COMPANHIA, transcriação do drama-poema Companhia de Samuel Beckett.
"Uma voz aparece a alguém no escuro. Imagina. À alguém deitado de costas, no escuro, a voz diz sobre o passado. Com ocasional alusão ao presente e mais raramente ao futuro como exemplo. Você terminará como você é agora. E em outro escuro ou no mesmo outro imaginado tudo por companhia. Deixe ele rapidamente." (Samuel Beckett, Companhia)
Companhia é um dos mais fascinantes textos de Samuel Beckett. Escrito em inglês, este conto/romance foi depois traduzido por ele mesmo ao francês e depois, adaptado novamente ao inglês. Beckett começou a escrever Companhia em maio de 1977.
Companhia tem 59 parágrafos, referência implícita ao circulo quase completo do relógio. 15 desses parágrafos falam de uma cena do passado. Aparentemente o passado de quem está de costas no escuro.
A frase de abertura é: “uma voz vem para alguém no escuro. Imagine”. À parte da voz e da pessoa que escuta, há uma outra pessoa, um “outro”. Esta voz fala em segunda pessoa.Esta encenação feita pela Companhia Máskara procura encontrar o diálogo entre estas vozes outras beckettianas. Personas que olham, sentem e buscam o tempo que passa.
FICHA TÉCNICA
Texto:
Samuel Beckett
Concepção visual e encenação:
Robson Corrêa de Camargo
Elenco:
Mariana Tagliari
Ronei Vieira
Valéria Livera
Fotos:
André Conrado
Operação de som:
Haroldo de Araújo
Produção:
Ronei Vieira
Quê Onde
Em nossa participação no Seminário Back to the Beckett Text, na cidade de Sopot/Polônia, em maio de 2010, uma jornalista da TV local nos perguntou porque Beckett no Brasil. A resposta: O Brasil foi o primeiro país a representar Beckett fora da França, em 1955, graças ao pioneirismo de Alfredo Mesquita. Além disso, Beckett estabelece um diálogo pleno com as margens textuais de Guimarães Rosa, o discurso interrompido de Bernardo Élis e o rio profundo de Cora Coralina, se afogando no pantanal de Manoel de Barros e na negatividade do argentino Jorge Luís Borges. O texto de Beckett é hoje parte do imaginário brasileiro e anda para frente sobre os pés de um curupira.
Quê Onde ou Que Donde ou What Where, Quoi où, é um texto onde uma voz afirma ao final: “Faça Sentido Quem Possa”. Último texto de Beckett escrito para o palco (1983), com quatro ou cinco personagens (Bam, Bom, Bim, Bem e a Voz) que entram e saem de cena num desenho circular. Este texto abre leituras múltiplas, pode ser um vaudeville, uma comédia ou um drama brechtiano. Sua dramaturgia é composta de perguntas e poucas respostas, solicita um espectador criativo, não aquele cego às entrelinhas ou ao ritmo da cena. Beckett não se repete porque a vida não se repete. Talvez haja uma história, ou não.
Segundo Gontarsky, que nos estimula à montagem deste autor, o que sobra depois de Quê Onde é a consciência incorporada do NADA. Este texto é um diálogo de vozes e imagens. Sem coerência, rico em imagens, cacos, fragmentos, vislumbres de uma narrativa contínua incompleta. Um jogo de dados que possibilita múltiplas leituras. Personagens surgem e desaparecem. Arte para ser olhada, ouvida, para não ser entendida. Assim é Quê Onde, utilizando palavras do próprio Beckett (leia e respire vagarosamente):
“Não é a minha vida, por que não, ele é um, se quiser, se for preciso, eu não digo não, esta noite. Tem de haver uma, ao que parece, uma vez que há discurso, não há necessidade de uma história, uma história não é obrigatória, apenas uma vida, esse é o erro que cometi, um dos erros, para que queria uma história para mim, enquanto vida por si só é suficiente.”
FICHA TÉCNICA
ENCENAÇÃO:
Robson Corrêa de Camargo
ELENCO 1:
Ronei Vieira
Mariana Tagliari
Ana Paula Teixeira
Valéria Livera
Robson Corrêa de Camargo
ELENCO 2:
Ronei Vieira
Nataly Brum
Ana Paula Teixeira
Valéria Livera
Luciano de Freitas
ELENCO 3:
Ronei Vieira
Nataly Brum
Ana Paula Teixeira
Valéria Livera
Deusimar Gonzaga
ELENCO 4:
Ronei Vieira
Nataly Brum
Takaiúna Correia
Valéria Livera
Deusimar Gonzaga
ELENCO 5:
Ronei Vieira
Edlúcia Barros
Mariana Tagliari
Ilmara Damasceno
Deusimar Gonzaga
Fotos: André Conrado
PREPARAÇÃO CORPORAL:
Kleber Damaso
MÚSICA:
Elsa Justel (compositora argentino-francesa de música eletro acústica).
Música composta especialmente para esta montagem.
PRODUÇÃO:
Ronei Vieira
FIGURINO E ILUMINAÇÃO:
Robson Corrêa de Camargo
PREPARAÇÃO AO TEXTO ESPANHOL, TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO:
Poliane Vieira Nogueira e Robson Corrêa de Camargo
Curta Beckett
ESBOÇO PARA RÁDIO I:
É um texto radiofônico escrito em 1961. Recorrente na obra do dramaturgo, em Esboço Para Rádio 1, as personagens não tem nomes e características físicas e psicológicas definidas. Assim como o lugar em que estão também é indefinido. A peça mostra o diálogo entre um homem e uma mulher que vai visitá-lo, permeado por uma voz e pela música.
VAI-E-VEM:
Esta peça, escrita em 1965, tem como personagem três mulheres, possivelmente semelhantes, em um diálogo repleto de silêncios, cochichos, memórias e lembranças. Tendo tanto para dividir e ao mesmo tempo um nada a preencher. Memórias, lembranças, que constroem uma cumplicidade: no gesto, nos olhares, nos diálogos. Tendo ao mesmo tempo particularidades e estranhamentos frente uma a outra. Um vai e vem continuo mas repleto de significados. Três mulheres de idade indeterminada, desejando apenas sentir os anéis. Vai-e-Vem teve recente montagem dirigida por Peter Brook, como parte de seu espetáculo “Fragments” (2008), que também continha vários textos curtos de Beckett.
O IMPROVISO DE OHIO:
Escrito a princípio para o simpósio “Samuel Beckett: Perspectivas Humanistas”, na Universidade de Ohio, em 1981, a pedido do pesquisador Stanley Gontarski, “Improviso de Ohio” é uma das inquietantes peças curtas de Beckett. O autor se propôs a escrever um improviso, gênero de peça que tem o ator como centro do espetáculo e encena uma possível improvisação satírica para defender seu ofício. Porém, Beckett, difere da formatação clássica do gênero, colocando em cena um ato de leitura, de escrita, de ensaio, não uma improvisação de atores. Dois personagens, “tão parecidos quanto possível”, concentram-se em uma história lida em um grande livro aberto em suas últimas páginas.
O desafio de escutar Beckett e continuar apresentando as novas facetas deste inovador das imagens e sons do palco, nos transporta agora a quatro peças curtas deste grande autor irlandês, algumas inéditas em nosso país. É grande a tentação de tentar manter Beckett dentro da caixa de Esperando Godot, como se ele fosse o autor de apenas um texto dramático. Entretanto, Beckett também escreveu outros ótimos textos também para o rádio, cinema e televisão.
TEXTO PARA NADA IV
Texto Para Nada IV, faz parte de uma coletânea de 13 Textos Para Nada, escritos em 1950. Como sempre, escreve Beckett, o texto é sobre "um personagem indefinido, em lugar igualmente indefinido", nele se constata e reflete o vazio sempre preenchido da existência, um vazio preenchido pelo nada. Uma personagem cujas falas representam, substituem, transformam e mantêm suas percepções sobre si mesma e sobre o mundo. O texto transporta a personagem para estados mentais e emocionais nos quais ela é não-ela e não-não ela. Estados alterados de consciência e de negação de si que permitem experimentar, através de outras personagens, também ela mesma, a complexa convivência que todos nós mantemos com os outros manifestados em nós.
FICHA TÉCNICA
Direção: Robson Corrêa de Camargo
Elenco 1: Ronei Vieira, Nataly Brum, Kelly Priscilla, Mariana Tagliari, Ana Paula Teixeira, Haroldo de Araújo e Deusimar Gonzaga
Elenco 2: Ronei Vieira, Clécia Sant'Anna , Ilmara Damasceno, Mariana Tagliari, Ana Paula Teixeira, Haroldo de Araújo e Deusimar Gonzaga
Iluminação: Allan Lourenço
Figurinos: Concepção coletiva
Máscaras e objetos cênicos: Haroldo de Araújo
Tradução e adaptação dos textos para o português: Ana Christina Brandão, Mariana Tagliari, Ana Paula Teixeira e Deusimar Gonzaga
Tradução e adaptação dos textos para o espanhol: Poliane Vieira Nogueira
Preparação do texto falado para o espanhol: Poliane Vieira Nogueira
Produção: Ronei Vieira
CascandoBeckett: UMA IMAGEM COMO OUTRA QUALQUER
"É um trabalho sem importância, mas o melhor que tenho a oferecer. Se realiza, eu suponho, numa forma que evidencia o que se revela/mascara para a minha mente e o que se revela/mascara pelo trabalho (It is an unimportant work but the best I have to offer. It does I suppose in a way show what passes for my mind and what passes for its work). Letter of 21 September 1962, in Harvard Collection, cited in Worth, K., 'Words for Music Perhaps' in Bryden, M., (Ed.) Beckett and Music (London: Oxford University Press, 1998), p10.
Como sempre, nas montagens do Máskara, procuramos uma leitura particular de Beckett, um diálogo com nossas paixões. Não é nosso objetivo procurar uma cópia fiel do que supostamente teria sido proposto pelo autor em algum teatro hoje inexistente, nem o de ser diferente. Procuramos, nas vozes e silêncios de Beckett, um diálogo com seus escritos, com suas palavras, imagens esboçadas de seu processo criativo. Sim, poderia ser de outra forma, gostaríamos de outra versão, mas Beckett não era fiel a si mesmo. Beckett, como Woburn, também ainda não apareceu.
Mabou Mines, a importante companhia de teatro de vanguarda dos Estados Unidos, uma vez encenou Cascando, no palco, com música de Philip Glass, na Broadway, em 1976. Nela haviam também várias vozes e um cello. A montagem de Pan Pan em Dublin, de 2016, coloca a audiência num labirinto, vestida em roupas especiais com headfones, andando lentamente. Há aqueles que condenam a representação divergente no teatro das peças de Beckett, ou se recusam a adaptar suas peças radiofônicas à cena, pobres almas, condenadas ao reino dos céus. Sim, com Beckett repetimos, “É um trabalho sem importância, mas o melhor que temos a oferecer”. Falhe sempre, Falhe, Fale Beckett.
CASCANDO
(Samuel Beckett)
Trad. de Raul Macedo da versão inglesa.
por que não simplesmente não esperar
a ser a ocasião
de um despojar-se de palavras
não é melhor abortar que ser estéril?
depois da sua partida as horas são tão tristes
sempre começarão a se arrastar demasiado breves
os garfos cegamente agarrando o leito da miséria
resgatando os ossos os amores antigos
as órbitas preenchidas por olhos como os seus
é melhor sempre breve do que jamais?
negra necessidade salpicando os rostos
dizendo uma vez mais nunca flutuou nove dias o amado
nem nove meses
nem nove vidas
texto. É fácil.
2
dizendo uma vez mais
se você não me ensinar eu jamais aprenderei
dizendo uma vez mais existe um último
tardar de vezes últimas
vezes últimas de mendigar
vezes últimas de amar
de saber não saber simular
um último tardar de última vezes de dizer
se você não me amar jamais serei amado
se eu não lhe amar eu jamais amarei
um bater de palavras gastas uma vez mais no coração
amor amor amor golpe de uma bomba antiga
moendo o soro inalterável
das palavras
uma vez mais aterrado
de não amar
de amar e não a você
de ser amado e não por você
de saber não saber simular
simular
eu e todos os que lhe amarão
se lhe amarem
3
a menos que lhe amem
Cascando é uma peça para rádio de Samuel Beckett, escrita em francês em dezembro de 1961. Seu título é um pouco maior, Invention radiophonique pour musique et voix (invenção radiofônica para música e voz). Sua primeira transmissão foi feita na França em 13 de outubro de 1963 com Roger Blin (L'Ouvreur), o primeiro diretor de Esperando Godot, e Jean Martin (La Voix). A peça foi originalmente chamada Calando, um termo musical que significa diminuindo ou decrescendo, que pode envolver o tempo musical ou a intensidade. Cascando é também o título de um curto poema de Beckett de 1936.
Sobre a peça para rádio Beckett disse:
FICHA TÉCNICA
Texto: Samuel Beckett
Direção: Robson Corrêa de Camargo
Elenco: Bruno Pina
Carlos Campos
Deusimar Gonzaga
Elisa Abrão
Karine Ramaldes
Warla Paiva
Figurinos: Clécia Sant’Anna
Iluminação: Allan Lourenço
Cenários: Wagner Gonçalves
Coreógrafos dançarinos: Elisa Abrão e Warla Paiva
Desenho Gráfico: Hiro Okita
Fotos: Victor Hugo Maia
Produção: Ronei Vieira